E fácil viver sem dinheiro
E fácil viver sem um sonho
E fácil me acostumar a não ter um objetivo
E fácil deixar a vida me levar
Mesmo que seja louca e sem sentido
E fácil olhar pra traz e não me arrepender
Por que em alguma parte da minha historia cheia de derrotas
Encontrei pessoas com a mesma forma de pensar
E o mesmo desespero
Difícil e olhar ao redor
E não encontrar ninguém
Difícil e viver sem amigos
Nisso eu tenho sorte
Dessa parte eu não reclamo
Nunca, nunca
Nós não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo a lei
Ela: eu, eu preciso de espaço...
eu preciso de tempó para descobrir quem eu sou, sabe
não é você, não é você mesmo, sou eu e tipo, o timing da coisa
eu estou tentando descobrir quem eu sou e eu não consigo fazer isso se
eu estiver tentando te descobrir
Ele: Uh, você me consegue outro prato, por favor?
....
Ele:Pra você!
Ela: Você está percebendo que eu estou terminando com você né?
Ele: É uma coisa estranha, na verdade ele é seu agora
Eu não sei porque funciona assim, mas eu nunca vou conseguir te superar,
Então de agora em diante, toda garota que eu conhecer vai ser meticulosamente comparada a você,
e, infelizmente, nenhuma delas vai chegar a altura da falsa memória do que nós dois "tinhamos"
Ela: hum, bom, talvez eu possa ficar com ele um pouco e usar para algumas coisinhas
como
sei lá, eu estiver tendo um dia muito ruim, ou se eu precisar de alguémm pra conversar,
ou pra mudar alguma coisa de lugar,e então, eventualmente, eu te devolvo quando nós encontrarmos outras pessoas
Ele: Infelizmente não vai funcionar desse jeito
Ela: Por que não?
Ele: Bem, agora que vc tem meu coração, eu sou basicamente uma cavidade vazia por dentro,
na falta de um termo melhor, sem-coração, eu agora vou tratar todas mulheres que eu conhecer
com um comportamento passivo-agressivo, arruinando relacionamento atrás de relacionamento por vários anos que virão.
....
Ela: Você está me ouvindo??
Ele: Não
A Metamorfose ou Os Insetos Interiores ou O Processo
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli
Notas de um observador:
Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.
A futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.
Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, in(f)vertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se
A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.
Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores.
Entre fotos amareladas Cartas rasgadas Poemas quebrados Em falas sem nexo No meu mundo complexo Que só eu entendo E que não tem mas graça
No fundo de uma gaveta Encontrei um desenho Rabiscado atrás de uma prova Manchado Por gotas de sei lah o que Eu amava tanta gente Tantos amigos na ponta do lápis Foram se apagando no fundo da gaveta
Mas lamentar não vou Não perdi minha índole Ainda penso do mesmo jeito E minhas ações são movidas pelos mesmos motivos E ainda existem pessoas que eu amo O verdadeiros amigos não são simples desenhos São tatuagens na minha memória Não podem ser apagados como desenhos feitos a lápis