mais um dia

Atravesso a rua sem enxergar o outro lado
Desceu uma neblina sinistra essa noite
O tempo vai passando a madrugada vai chegando
E a festa se aproxima do final
É o final de tanta coisa que durante algumas horas foram importantes
Mas que amanhã bem sedo vão ser bem menores que a dor de cabeça
Passo pela calçada em frente ao bar onde costumo comprar montila a 14.90R$
A mesma galera jogando sinuca, outros como sempre tomando vodka com fanta em baixo da arvore, outros perambulando sem rumo
Procurando alguma novidade, alguma briga, alguém distribuindo cerveja de graça em alguma esquina ou alguma atriz de malhação perdida
De repente eu a vejo. Não, não é nenhuma atriz
E passo perto esperando que ela me note, ela olha e segue em frente
Um “oi” é mais que dispensável. Eu não vou atrás
Não tenho mais cabeça pra flertar nem pra levar na brincadeira um desses tocos novelisticos de menina de subúrbio
Muito provavelmente esta indo pra casa e também muito provavelmente a senhora de cara amarrada que vem logo atrás deve ser a mão furiosa
Já passa das duas da madrugada
Nunca se sabe que tipo de maníaco pode estar a espreita escondido por traz da neblina
Cheguei onde eu queria, barraca do Bira, baiano gente fina esse.
Marcelo Dedel, Zinho, Vitor, André, Vaguinho e sua inseparável garrafa de 51
Cerveja pra todo mundo
Que se dane se o mundo vai acabar amanhã, me passa meu copo
Ai vem um cara vendendo canecas decoradas. Comprei uma da DEVASSA
Odeio a cerveja, mas o nome é maneiro. Devassa
Eu bebo um gole, mais um gole e outro gole e sem perceber lah se foram 11 latinhas
O suficiente pra me deixar alegre mesmo com a musica horrível e o povo mal encarado
Aliaz, como tem gente mal encarada em conselheiro, alguns com motivo e outros sem nenhum.
To nem ai, depôs de tantos boatos alguns sem o menor fundo de verdade
Eu aprendi a ignorar
Em fim, uma noite feliz
Vi velhos amigos, lembrei de velhas historias, ri de velhas piadas

Para para para

A quem eu to querendo enganar?
Você não estava lah
Não foi tão feliz assim
Nunca vai ser tão feliz assim

OS QUARENTA


Um dia você recebe pelo correio a comunicação de que foi escolhido como um dos Quarenta. Só isso. Você é um dos Quarenta. Não há outras informações. Quarenta o quê? A comunicação não diz.
Você não liga. Deve ser propaganda. Depois certamente chegará um prospecto com ofertas para você, que é um homem de gosto apurado, um homem que, afinal, pertence ao exclusivo grupo dos Quarenta etc. Talvez seja uma coleção de livros ou uma linha de artigos de toalete, a preços especiais para 40 privilegiados como você.
Mas não. Durante muito tempo você não recebe mais nada. Até esquece do assunto. E um dia recebe pelo correio um cartão bem impresso, em relevo, com seu nome seguido da frase “Um dos Quarenta” e num canto o número 26.
Como o primeiro envelope, este não tem nem o nome nem o endereço do remetente. Aí você se dá conta de que também não há carimbo do correio. O envelope foi entregue diretamente na sua porta.
Você fica intrigado. Pergunta a amigos se eles sabem alguma coisa sobre os Quarenta.
- Quarenta o quê?
Você não sabe. Só sabe que é um deles. Ninguém jamais ouviu falar nos Quarenta. Ninguém das suas relações recebeu nada parecido. Você começa a fazer fantasias. Pertence a uma elite, mesmo que não saiba qual. As 40 pessoas mais… o quê? Não importa. Você é um dos 40 mais alguma coisa do Brasil. Ou será do mundo? Há algo que o distingue do resto da humanidade. Por quê, você não sabe. Quem o escolheu? Também não sabe. Mas não deixa de ser uma sensação boa se sentir um dos Quarenta. Nem todo mundo pode ser um dos Quarenta. Só 40.
Você começa a usar seu cartão dos Quarenta na carteira. Quem sabe? Um dia ele pode servir para alguma coisa.
- Você sabe com quem está falando? Sou um dos Quarenta.
Passam-se meses e chega outra informação. Haverá uma reunião dos Quarenta! Você deve aguardar informações sobre local, data, transporte, acomodações…
Sua curiosidade aumenta. Você finalmente vai conhecer a misteriosa irmandade à qual pertence. Quem serão os outros 39?
Mas as informações não chegam. Chega, um dia, um telegrama. Também sem nome ou endereço de remetente. O telegrama diz:
“NÃO VAH REUNIÃO QUARENTA PT EH ARMADILHA”.
É brincadeira. Agora você sabe que é brincadeira. Mas que brincadeira boba e cara, com telegramas, cartões em relevo…
No dia seguinte, toca o telefone. É noite, você está sozinho em casa, e toca o telefone. Você atende.
É uma voz engasgada. A voz de um homem agonizante.
- Fuja… – diz a voz, com muito esforço.
- O quê?
- Fuja! Eles estão nos eliminando, um a um…
- Que-quem são eles?
- Não interessa. Fuja enquanto é tempo!
- Mas eu…
- Não perca tempo! Eles me pegaram. Estou liquidado.
- Quem é você?
- O número 25…
Há um silêncio. Depois você ouve pelo fone o ruído borbulhante que faz o sangue quando sobe pela garganta de alguém. Você precisa saber uma coisa. Você grita:
- Quem somos nós?
Mas agora o silêncio do outro lado é completo.
E então você vê que estão tentando forçar a sua porta.

Luis Fernando Verissimo

pérolas do Raul Gil

pois é meus caros amigos
outro dia ví uma mistura inusitada no programa desse senhor que revelou em seu programa verdadeiras pérolas como Robsom e Jamillie (não sei se é assim que escreve, mas foda-se)

pois bem
o cara de quem vou falar é bem mais interessante
ele se chama Renato Vianna
e no ultimo programa que eu vi
ele fez uma versão cabulosa de billie jean
não preciso nem dizer de quem é a musica

então apenas olha essa mistura de James Hetfield com Michael Jackson



Reflexão

Tenho a terrível mania de reler recados antigos
Digo que é terrível
Por que sempre que leio
Percebo o quanto as pessoas mudam
E é quase sempre pra pior
Já eu não
Não ligo de soar repetitivo aos olhos dos entediados
Repetirei mil vezes tudo que penso
Enquanto eu pensar